terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Não que os dias nublados não tenham seu charme, mas em momentos tristes ou decisivos eu preciso do conforto da luz do sol no meu caminho. Naquele dia em especial o céu carregava uma camada espessa de nuvens que parecia pesar sobre os nossos ombros, pressionando nossos olhos já cheios de lágrimas contidas. Atribuí o peso às nuvens para desviar minha mente do peso das decisões importantes que me aguardavam e da tristeza que sentia em me despedir de tudo o que eu amo.

Entrei naquele avião minúsculo onde, por incrível que pareça, eu mal conseguia ficar em pé. Fitei as janelas do aeroporto onde sabia que eles ainda me olhavam, mesmo não podendo vê-los. Ampliei o meu olhar para o horizonte cinza e lembrei que o céu costumava me cumprimentar com alegria quando eu escolhia os seus caminhos para viver mais uma aventura. A paisagem não era nada convidativa e eu imaginava alguma turbulência no caminho de volta, mas eu precisava voltar para casa, por mais difícil que fosse.

Os alertas soaram, os avisos se acenderam, os aparelhos eletrônicos foram desligados. As turbinas foram ligadas e as hélices giraram com um barulho absurdo. Absurdamente irritante para quem não queria estar naquele avião. Irritantemente aterrorizante para quem sabia que os minutos seguintes a aproximariam de decisões importantes que não queria tomar, de tarefas imprescindíveis que infelizmente precisavam ser cumpridas.

Enquanto lembrava de como a vida tinha caminhos inconvenientes para chegar a destinos agradáveis, o pequeno jato emergiu das nuvens. Em questão de segundos, a nuvem cinza que os cercava revelou que a luz ainda existia, mais brilhante do que nunca. A espessa camada de nuvens, afinal, estava ali somente para irradiar em sua brancura todo o resplendor do sol. Nascia um novo dia pouco antes do pôr do sol.

Um novo amanhecer

sábado, 19 de janeiro de 2013

Eu não resisto a uma coleção bonitinha. Acho o máximo quando a editora tem o bom gosto de formatar todos os livros de um mesmo autor (ou não! qualquer desculpa pra fazer combinadinho já me deixa feliz!) num mesmo estilo. As capas combinando na estante... não fica lindo? Não teria comprado John Grisham com as capas antigas. Aliás, eu deixei de comprar um livro dele esse mês porque ainda não tinha com a capa nova. Mas a gente quer falar da história, né?



"Os Litigantes" é uma história de anti-heróis. Um advogado alcoolista que anuncia divórcio rapidinho e baratinho em cartelas de bingo. Um advogado veterano que passou a vida inteira procurando clientes em batida de carro e ainda não conseguiu dinheiro pra se aposentar ou pra se divorciar da mulher. Um advogado em uma firma gigante, com um salário enorme e um trabalho que é um saco, que resolve largar o emprego e tomar um porre. Estes são os protagonistas de Grisham: os fracassados.

Como se fosse uma versão loser desse cara, sabe?

No início eu fiquei com raiva, principalmente do Wally (o bêbado) e do Oscar (o velho). Eles são exatamente o tipo de advogado do qual eu tenho nojo. Aquela escória que faz qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pra arrumar um cliente qualquer. Enquanto Oscar só quer se aposentar ou morrer, o que acontecer primeiro, Wally ainda está em busca do golpe perfeito. Algum caso contra alguma empresa grande para conseguir uma indenização vultuosa e ganhar uns honorários bem gordos.

David (aquele que tomou um porre) é um tipo mais nobre e foi por ele que eu levei o livro até o fim. Veja só, ele estava naquela firma enorme, com milhares de advogados, ganhando quinhentos dólares por hora pra lidar com subscrição de títulos com ênfase nos spreads do after-market de segundo e terceiro níveis, principalmente para multinacionais que prederem não pagar impostos em qualquer lugar do mundo. Cinco anos sem nunca pisar num tribunal, só criando papelada. Trabalhando para empresas, e não para pessoas. Eu sei que há quem goste disso (e eu fico feliz por isso - ninguém pode me obrigar a fazer esse tipo de trabalho enquanto houver quem goste dessas coisas), mas eu prefiro trabalhar resolvendo os problemas das pessoas, e o David também.

Aí tem a capa do livro, com esses comprimidos. Isso porque a história se desenvolve quando, ao mesmo tempo em que David toma um porre, chuta o balde na firma e vai parar da F & F, Wally Figg arruma um caso contra uma gigante farmacêutica, pedindo indenização pela morte de um cliente que teria sido causada por um remédio que fazia mais mal do que bem. Foi um fervo no país inteiro. Ele bateu em cada porta prometendo um milhão de dólares para quem aceitasse entrar na ação coletiva. Entrou com a ação no tribunal federal sem a mínima experiência com um juri (nos Estados Unidos, quase tudo vai a juri)... 

Se não gosta de pessoas de terno, esse livro não faz o seu tipo.

Talvez eu esteja entediando vocês com essa história e eu realmente acho que esse livro deve ser muito entediante para quem não consegue ao menos ver um episódio de Law and Order. O fato é que eles arranjam muita corda pra se enforcar, e quando você se dá conta, o livro que estava um saco com esse tipo de gente que você despreza (no caso, 'você' seria eu mesma) conseguiu prender a sua atenção porque você quer saber se vai dar certo, se eles vão ganhar a ação, se vão se dar mal, se o David vai se corromper... Quando você se dá conta, está cativada pela escória do mundo jurídico (os advogados porta de cadeia ou, no caso, caçadores de ambulância, sem o menor senso de ética), não porque concorda com o que eles fazem, mas porque se importa com o que eles são (ignorem o fato de que eles não existem) e quer saber como eles vão sair dessa, e se vão se emendar depois dessa.

Dei três estrelas porque o livro é realmente bom. Não é muito bom, nem ótimo, mas é bom.Não é bom por inteiro, mas vai ficando bom com o passar do tempo. Entre os leitores do Skoob, tem avaliações de três a cinco estrelas. Ninguém abandonou. Se você gosta de assistir Law and Order e de filmes com cenas de tribunal, se já é fã de John Grisham, vai fundo ;)

Extras

Comprei o livro em... acabei de perceber que eu não anotei. Eu sempre anoto a data na sobrecapa. (Aproximadamente uma hora). Lembrei. Foi numa promoção de 3 por 30 do Submarino. Chegou em setembro, pouco antes de começar a grande ressaca literária de 2012 (que, pelo visto, assolou boa parte da população da minha timeline). Eu tinha lido Pequena Abelha e parecia que nada na minha estante era bom pra ler em seguida. Peguei um Sidney Sheldon na biblioteca que resolveu meu problema. Acontece que, na sequência eu li Em Chamas e A Esperança. O que aconteceu em seguida não foi uma ressaca literária, foi uma fossa. Eu chafurdei no luto pelos personagens queridos. Mas não vamos falar disso agora. Daí que eu precisava de alguma coisa pra sair dessa situação, e como Sidney Sheldon funcionou na última vez, achei que John Grisham daria certo.

Enfim, no Brasil, John Grisham é sinônimo de Rocco. Eu já falei aqui que as edições da Rocco são muito porquinhas, especialmente quando você pensa no preço que eles cobram. Eu pago caro com gosto se o trabalho for lindo e maravilhoso. Não é o caso dessa edição, mas dá pro gasto. É bonitinha. O papel é branco #chora, mas a capa é bonitinha, a fonte e o tamanho da letra são confortáveis, e eu achei bonitinho como colocaram o nome do autor e a paginação nas folhas. Também gosto das orelhas bem largas.

O livro é o lançamento mais recente (e mais barato) do autor no Brasil, do original The Litigators. Escrito em 2011, ainda não tem adaptação televisiva ou cinematográfica. Depois desse, Grisham já publicou mais dois ainda não lançados no Brasil. Alguém segura esse homem! Ele é o sexto mais lido nos Estados Unidos (dizem) e dos 28 livros lançados saíram 19 adaptações para TV ou cinema.

Como é lançamento de 2012 da Rocco, tem exemplares a rodo e volta e meia está em promoção. Podem olhar na Travessa, Submarino, Cultura ou Saraiva, ou na livraria de sua preferência. Só não olhem no site da editora, não presta. (Que vergonha, Rocco! Que site horroroso!). Mais informações no Skoob ou no site do John Grisham (em inglês).

Os Litigantes (John Grisham)