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Entrei naquele avião minúsculo onde, por incrível que pareça, eu mal conseguia ficar em pé. Fitei as janelas do aeroporto onde sabia que eles ainda me olhavam, mesmo não podendo vê-los. Ampliei o meu olhar para o horizonte cinza e lembrei que o céu costumava me cumprimentar com alegria quando eu escolhia os seus caminhos para viver mais uma aventura. A paisagem não era nada convidativa e eu imaginava alguma turbulência no caminho de volta, mas eu precisava voltar para casa, por mais difícil que fosse.
Os alertas soaram, os avisos se acenderam, os aparelhos eletrônicos foram desligados. As turbinas foram ligadas e as hélices giraram com um barulho absurdo. Absurdamente irritante para quem não queria estar naquele avião. Irritantemente aterrorizante para quem sabia que os minutos seguintes a aproximariam de decisões importantes que não queria tomar, de tarefas imprescindíveis que infelizmente precisavam ser cumpridas.
Enquanto lembrava de como a vida tinha caminhos inconvenientes para chegar a destinos agradáveis, o pequeno jato emergiu das nuvens. Em questão de segundos, a nuvem cinza que os cercava revelou que a luz ainda existia, mais brilhante do que nunca. A espessa camada de nuvens, afinal, estava ali somente para irradiar em sua brancura todo o resplendor do sol. Nascia um novo dia pouco antes do pôr do sol.