sábado, 23 de fevereiro de 2013

Fim do mundo. Há quem diga que o fim do mundo já aconteceu e que a nossa vida é uma ilusão. Outros anunciam o fim do mundo e marcam data para acontecer, com base em todo tipo de sinal e profecia. Para muitos essa história de céu e inferno é bobagem - afinal, o que pode ser mais difícil que essa vida aqui? O fato é que está cada vez mais difícil viver nesse planeta, e todo mundo consegue encontrar vários motivos pra querer dar o fora. Ser otimista é bom, mas ser realista é melhor. Se o bom da vida é o seu lado "coca-cola" - faz mal, engorda, provoca gases nocivos e o gosto é horrível - o melhor da vida só vem depois do fim. 

Quando menos se esperar, como um relâmpago que aparece de repente por um instante, virá o Filho do Homem, sobre as nuvens, para chamar os que são seus. No fim, todas as respostas certas se submeterão à única verdadeira. Quando o mal achar que tem o controle sobre todas as coisas, será derrotado de uma vez por todas e o Reino se estabelecerá. Toda "certeza" vã, por mais científica que seja, será destruída. Nesse dia, toda a raça experimentará a cura para todo o mal, onde não existe choro, nem dor, nem TPM. Essa é a nossa esperança: esperamos pelo fim. Esperamos pelo céu. Esperamos pela vida eterna e abundante. Enquanto isso, não custa insistir: o inferno é bem pior que isso aqui.

Existirá, e toda raça então experimentará para todo mal a cura.


Música da Semana: A Cura (Lulu Santos)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013



PRECISA-SE curso a distância sobre Como Aprender a Dizer Não. Preferência por cursos gratuitos.

COMPRO tempo para fazer mais coisas que eu gosto e menos coisas que eu preciso.

ALUGO acelerador de tempo para chegar nas férias mais depressa. Sem efeitos colaterais.

VENDO cinco quilos de gostosura. Excelente estado. Valor a combinar. Aceito troca por um par de pernas mais firmes.

COMPRA-SE fluência em todas as línguas do mundo. Aceito cursos e livro por menor preço.

TEMOS VAGAS companheiro de viagem até o fim do mundo. Necessário espírito de aventura e um pouco de desaapego. Aceita-se com uma porção razoável de frescura, a combinar.

COMPRO paciência. Pode ser usada, desde que em bom estado.

DOAÇÃO de gula. Temos diversas variedades: gula por doces, coxinhas, pizza e queijo amarelo. Outros tipos de gula sob consulta.

DOA-SE conselhos baratos de gente intrometida. Temos todos os tipos: de inocentes a preconceituosos. Motivo: mudança de vida.

VENDO uma coleção da Barsa. Ótimo estado. Apenas desgaste nas letras da capa pelo decurso do tempo. Aceito troca por dicionário de francês ou italiano. Por dois dicionários, incluo "Livros do Ano" e "Ciência e Futuro" de 1991 a 1997.

Classificados

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Ciranda de Pedra (Lygia Fagundes Telles)

Redescobrir o sal que está na própria pele
Quanto mais difícil, mais necessário é manter as aparências. Ainda mais depois do escândalo da separação, da loucura, do adultério. A menina Virginia é a única das irmãs que mora com a mãe e o "tio Daniel", médico por quem Laura se apaixonara. Além de viver desprovida da abastança das irmãs, a caçula convive com a doença da mãe, sempre à espera de um lampejo de lucidez. A história é narrada do ponto de vista dela, mas em terceira pessoa. Pai distante, mãe louca, irmãs indiferentes - Virginia quer ser próxima de alguém, quer fazer parte, mas está envolvida em contextos heterogêneos. 
Virginia: Não me pareço com ninguém.

Pelo simples ato de um mergulho ao desconhecido mundo que é o coração
Quando finalmente descobre que não pertence a lugar nenhum, Virginia pede ao pai para estudar em regime de internato. A história, então, avança para o dia em que retorna à casa do pai. Está tudo muito diferente, e ao mesmo tempo muito igual. Sabe, quando você retorna ao lugar onde passou a infância? Parece que não mudou nada, e, ainda assim, mudou tanta coisa... Virginia mudou. Agora eles lhe oferecem um lugar na roda, mas ela não tem certeza se ainda quer girar. Os segredos que antes ela ansiava saber tornam-se verdades pesadas demais para ela. A gente vai pegando uma afeição por essa menina, quer chamar pra tomar um café, dar um conselho. É uma história muito preocupante. Uma menina muito preocupante, mas isso não é o pior. Acontece que ela é muito doce, também, e dá cada susto na gente...
Otávia: E então, já descobriu muita coisa?

Renascer da própria força, própria luz e fé
O final pode ser feliz ou triste, depende do ponto de vista. Eu ainda não escolhi o meu. Virginia finalmente encontrou seu lugar no mundo. Os personagens são fieis até o fim em suas características principais: Conrado é um banana; Afonso é um babaca; Bruna é uma hipócrita; Otávia é louca como a mãe; Leticia é fraca - aquele tipo de gente fraca que finge que é forte, mas toda a sua força vem da fraqueza de não perdoar o passado. Eles são um espelho onde dá pra enxergar um pouquinho de cada pessoa. Esses livros que jogam a verdade na cara da gente são assustadores.
Conrado: Começa hoje a vida que te resta.

E o quê mais?
A escrita da Lygia é delicinha! Se fosse um som, seria aquela voz macia, melodiosa, ritmada, cheia de calor e emoção. Ciranda de Pedra é o primeiro romance da autora, já reconhecida pelos seus contos. A impressão é que ela prendeu a respiração por tempo suficiente para ter fôlego para um mergulho profundo logo na primeira vez. Para Carlos Drummond de Andrade, é "um livro perturbador, que nos prende e nos assusta". Concordo. Li no começo do ano e olha, quando passo por ele na estante, ainda me surpreendo prendendo o fôlego, como num susto. (Verdade!)

A edição da Companhia das Letras é linda, linda, linda. Essa coleção da Lygia tem capas tão lindas que dá vontade de pendurar na parede, porque são, de fato, detalhes de obras de arte. O texto foi impresso em papel Pólen Bold (aquele amarelinho, com textura gostosa). A fonte é serifada, com tamanho bom para os ceguetas, sem ser exagerado.

Esse exemplar faz parte da minha biblioteca. Comprei na Livraria Cultura do Shopping Curitiba em outubro de 2012, num esforço para aumentar a minha seção de Literatura Nacional. Como eu sou meio traumatizada com os autores mais recentes (ai, gente, desculpa, talvez eu precise de terapia, mesmo, fazer o quê?), compro esses autores lindos e mortos, que não enchem o saco se eu não gostar.

Ciranda de Pedra foi adaptado duas vezes para a televisão pela Rede Globo (1981 e 2008). Eu não acompanhei, mas acompanhei algumas partes e, depois que li, fui no site da telenovela e... não tem nada, nada a ver. Como se pegasse as duas primeiras páginas do livro e a partir daí seguisse com outra história. Mas a trilha sonora é ótima :) Os trechos da resenha são da música de abertura, Redescobrir, do Gonzaguinha, que foi interpretada pela Elis Regina.

Por ser uma leitura densa, não recomendo para leitores iniciantes. (Não acho que quem está começando a tomar gosto pela leitura tem que ler qualquer clássico, a menos que realmente queira. Os clássicos geralmente são pesados e muitas vezes são chatos, mesmo.).

Disponível nas principais livrarias (físico e e-book): Travessa Cultura Saraiva Loja da Companhia

Gostaram do novo modelo de resenha? Aceito sugestões! :)

Ciranda de Pedra (Lygia Fagundes Telles)