sábado, 24 de julho de 2010

Feniletilamina

A primeira lembrança que eu tenho dele é de quando eu tinha doze anos. Era uma espécie de gincana de 'quem achar primeiro lê' e eu tinha acabado de abrir a boca para ler quando ouvi a voz dele atrás de mim. Inesquecível. Só que eu ainda não sabia por quê.

Dois meses depois eu me mudava pra cidade, igreja, e escola dele. Engraçado é que mesmo assim a gente se encontrava pouco. Moleque metido, piá chato, metido a esperto. Morria de ciúmes toda vez que ele aparecia. Não dele nessa época eu tinha uma paixonite por um menino da cidade que eu morava antes, da minha amiga. Eu até deixei a implicância pra lá e tentei ajudar quando a história deles já ameaçava acabar. Foi quando ficamos amigos. De repente estávamos sempre juntos por vários motivos - por conveniência, por coincidência, por interesse (na causa, não no outro).

Sempre juntos. Eu não me permitiria sentir nada até que ele tomasse uma posição definitiva. Não que a minha permissão para sentir significasse alguma coisa... Mas eu não admitiria nem pra mim mesma que pudesse sentir alguma coisa não correspondida.

Então aconteceu. Numa quarta-feira ele disse que precisava ter uma conversa séria comigo. Mas havia vários assuntos sérios que ele poderia conversar comigo, né? Eu estava fazendo um curso, e ele marcou de se encontrar comigo lá para conversarmos no caminho pra faculdade.

Não apareceu. Peregrinei dois quilômetros num salto alto e fino até o terminal de ônibus pra ver se dava tempo de passar a raiva. Não passou. Cheguei lá espumando, evitando encontrar com ele pra não fazer nenhuma bobagem.

A essa altura eu já estava mais de uma hora atrasada pra aula, ele já tinha ligado até pra minha mãe pra saber o que aconteceu comigo. (Sério. Como ele podia não saber? Não, ele não tinha esquecido que eu estava esperando por ele) Briguei, briguei, briguei e briguei. Ele nunca mais faltou deliberadamente.
No fim da aula é que tivemos a tal conversa. Ele enrolado que só. Começou falando de uma tal de feniletilamina... parece que pesquisou uma semana pra arranjar uma desculpa pra essa conversa. Se enrolou tanto só pra começar a conversa que minha van chegou.

O restante eu não preciso explicar muito, né? Há exatos dois anos, eu gritei muito quando li isso aqui...

PS: Era mais de meia-noite e eu gritei mesmo
PS²: pra mim não tem outro jeito de contar essa história sem mostrar esses registros

Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
lembre-se ................... eu não tenho culpa disso........não quis isso.........e não sei se quero alimentar..................................................mas não tenho como não te fa lar........
só gostaria de dividir algo que está acontecendo........

Annie diz:
enrolao ¬¬

Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
e de alguma forma............está me atrapalhando
a feniletilamina é uma substância que só é liberada pelo organismo quando....

Annie diz:
enrolaaaaaaaao

Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
uma projeção biológica .. seletiva de uma pessoa com relação a outra

Annie diz:
DA PRA SER DIRETO?

Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
não consigo...
vc ............ tem me atrapalhado por demais nas últimas semanas..............

Annie diz:
eu?

Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
claro......
vc
porque é por causa de vc que os volumes de fenileltilamina no meu organismo estão elevadíssimos

[...]

Você acabou de pedir a atenção.

Annie diz:
haralan.......
ta apaixonado?
Haralan...abra mão de sua estratégia...mas não abra mão do seu caráter!! diz:
por vc!