sábado, 12 de fevereiro de 2011

Amizade Aproveitadora

Não sei se existe alguma profissão que não sofra desse mal. É assim, você estuda, se prepara, se dedica, investe dinheiro, investe tempo, planeja o que você vai fazer, planeja como você vai fazer. Você tem uma carreira. Ou você ainda não tem, porque eu não tenho ainda e já estou sentindo os primeiros sintomas.

Começa sempre com uma simples pergunta, uma ajudinha básica. Afinal, você é quem conhece esse assunto, não custa nada dar uma mão pro seu amigo de tantos anos, ou pior, porque se for parente é até ofensa não responder. Tudo bem, responder uma pergunta básica não faz mal. Isso se parasse por aí. Depois dessa começam os favores, e as pessoas passam a achar que você tem uma profissão para ganhar dinheiro e atender amigos e parentes. (Tem gente mais egoísta que acha que você não precisa ganhar dinheiro)

Agora o grande problema é quando você trabalha com coisas consideradas 'simples'. Especialmente quando seu trabalho não é 'fazer'. Um consultor, por exemplo, trabalha dando orientações, respondendo perguntas. Algumas pessoas acham um absurdo pagar caro para que um advogado apenas responda às suas dúvidas, mas não levam em conta quanto tempo e quanto dinheiro ele investiu para poder responder a essas dúvidas. Para saber se vale a pena, basta se perguntar: eu posso perguntar isso pra qualquer outra pessoa, ou esta é a pessoa qualificada para me orientar nessa questão? É claro que algumas pessoas vão pensar que podem perguntar pra qualquer pessoa quando não podem, mas aí é problema delas. 

Por exemplo, eu sou doida pra ter um layout próprio no blog. Quer dizer, na verdade o projeto é mais complexo que isso, mas eu conheço pessoas que podem fazer. Ou melhor, eu conheço pessoas que fazem isso, trabalham com isso. Mas eu nunca vou pedir pra nenhuma dessas pessoas fazer isso pra mim enquanto eu não puder pagar pelo serviço dela. É diferente quando a pessoa se oferece. Eu já trabalhei e trabalho voluntariamente, para amigos e até para desconhecidos, com a mesma seriedade e dedicação com que trabalho pra ganhar as minhas contas, eu assumi um compromisso. Mesmo assim, é educado oferecer uma gratificação, mesmo que ela não aceite. (Não preciso contar se eu aceito ou não, certo?) E estar preparado para o caso de a pessoa aceitar, né? Nem que seja um livro, um chocolate, um jantar. (Já viram gente que oferece e depois fica bravo porque a pessoa aceitou?)

Meus pais dizem que eu sou cruel, verdade, eles dizem isso mesmo, porque eu disse que não trabalho pra parente. Mas como ter uma relação profissional quando a pessoa a qualquer momento vai querer apelar para os laços sanguíneo-afetivos que os unem? E pior, quando o parente/amigo acha que você pode fazer o favor de trabalhar de graça pra ele. Tá, às vezes pode, mas você é muito cara de pau de achar que pode pedir isso, né? Se a pessoa estiver numa situação difícil, por exemplo, enquanto ela está trabalhando de graça pra você, parente/amigo, poderia estar ganhando dinheiro, trabalhando pra um cliente, que poderia até ser você.

Tem gente que não gosta de fatiar as pessoas, (vida profissional, pessoal, espiritual, etc), mas é bom lembrar antes de pedir um favor a seu amigo/parente que esse é o trabalho dela. Respeite o trabalho alheio, assim como você quer ser respeitado em sua profissão. Não se aproveite dos seus amigos, tenha amor e consideração por eles, mais do que por você. 

(Na verdade era pra eu contar uns casos engraçados e outros tristes sobre isso, mas o post já está grande. A gente continua aqui embaixo, tá? Todo mundo aqui deve ter alguma história pra contar...)