segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Desafio Literário: Compadre Virgulino Lampião

Aos quareeeenta e sete do segundo tempo, sai o segundo gol a segunda resenha que garaaaaaante a vitória na segunda fase do Desafio. Haaaaaaaaja coração!

Não me perguntem porque eu escolhi essa biografia. Foi meio, sem lá, intuição. Sempre conheci o cangaceiro como a lenda, ouvindo todo o pessoal da família de meu pai se referindo a ele como compadre. (E não é que tem um tal de Jovi mencionado na biografia? Se era meu avô? Sei lá...) 

Achei toda a história bastante interessante. A biografia é uma pesquisa, com fundo acadêmico, baseada na tradição oral. Isso significa que em vez de ficarem confiando exclusivamente nos documentos, resolveram buscar os depoimentos de pessoas que presenciaram os fatos, ou que estiveram com pessoas que participaram e que contaram suas histórias. Ah, e a organizadora é a neta dele. (Não sabia que cangaceiros tinham filhos? Nem eu. E antes que você imagine como, eles eram criados por padres, fazendeiros, coiteiros - pessoas que davam abrigo para os cangaceiros...)

O livro conta diversas histórias das 'aventuras' do chamado Rei do Cangaço em ordem cronológica. A personagem, que, apesar de real, é também um mito, é bastante confusa, controversa. Capaz de agir com misericórdia ou crueldade, totalmente imprevisível. Ah, vale mencionar também que era um grande estrategista, sempre duas jogadas à frente das volantes - nome das tropas militares que perseguiam os cangaceiros.

Virgulino resolveu ir para o cangaço porque perdeu a paciência. O sítio de sua família, gente pobre, foi roubado por um dos empregados de um grande coronel, desses coronéis que nunca foram militares, sabe?, que era seu vizinho. Além de nunca conseguir a justiça, ainda recebia provocações do filho do coronel, que herdou tudo do pai após sua morte. Com dinheiro e influência a coisa ficou cada vez mais séria. Foram perseguidos mesmo quando tentaram esquecer a encrenca. Foi quando perdeu a paciência e resolveu que ia matar até morrer. Consegue imaginar quanto ódio deve ter para que alguém chegue a tal conclusão?

Apesar de serem os bandidos da história, muitas vezes os cangaceiros se mostraram mais corretos que as volantes. Lampião tinha muito empenho em manter o respeito às famílias, principalmente depois que passaram a levar mulheres em seu grupo, coisa que as volantes não tinham. As coitadas das famílias eram saqueadas pelos cangaceiros, às vezes nem isso, e depois violentadas pelas volantes. Já ouviu aquela história de soldados que invadem a cidade em estado de guerra e começam a abusar das mulheres no local? Pois é. Além disso tinha a tal da crueldade. Se queriam lutar contra os bandidos, não deveriam se igualar a eles, né?

A última história que eu achei interessante foi de como Maria Bonita juntou-se ao grupo. Ela estava na casa de seu pai quando conheceu Lampião. Eles conversaram e ficaram meio amigos. Ele deu uns lenços para ela bordar, pagando, é lógico. Os cangaceiros pagavam tudo o que consumiam. Mas o dinheiro vinha de saques e despojos das batalhas... Ele passou a aparecer lá muitas vezes e a família do pai dela estava sofrendo as consequências disso. Não querendo ver ninguém sofrer, ela tomou a decisão. Da próxima vez em que ele aparecesse, ela o seguiria.

A história toda parece um filme de faroeste versão Herbert Richards. Como assim você não gosta de filme de faroeste? Tem coisa mais engraçada que ver aqueles grandessíssimos filhos de umas mundanas dando tiros pra todo lado? Sério, gente, é engraçado. Assistam qualquer dia desses... Bom, além de engraçado, porque sempre acontecem umas trapalhadas, SEMPRE, também tem toda aquela coisa apreensiva de 'Será que o nosso herói via se safar dessa?' E sim, eu agora estou falando do livro, embora isso também se aplique ao bang-bang.

Fiquei feliz por conhecer um pouco mais da história de um brasileiro. Engraçado é que Lampião foi contemporâneo de Monteiro Lobato, mas parecia que eles viviam em países e épocas completamente diferentes... Ê, Brasil, né?