quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Desafio Literário: Monteiro Lobato

Houve uma feliz alteração nas minhas escolhas para o Desafio Literário desse mês. Com um tema desafiador, porque não é qualquer um que se presta a ler biografias, da mesma forma que quem lê biografias não costuma ler qualquer coisa. Escolhi os novos livros entre as estantes de biografia da biblioteca. Pela capa, pelas figuras, pela edição, e, claro, pelo biografado. A biografia do Lobato logo me saltou aos olhos. Confesso: o que me fez não querer mais largar o livro (e não querer mais nenhum que não parecesse tão legal quanto esse) foram as declarações infantis sobre como imaginam o autor que preencheu a infância delas com fez com a minha.

Formou-se em Direito em uma renomada faculdade brasileira, onde acendeu sua militância e fez pulsar a veia jornalística, publicando vários artigos. Foi promotor, mas não se descobriu na área jurídica. Tentou ser fazendeiro nas terras que herdou do avô, o Visconde de Tremembé, mas acabou abrindo uma editora e fazendo carreira na literatura. Ô, seu Lobato! Não dá idéia!

Jornalista em São Paulo, foi um grande defensor de uma cultura nossa, brasileira. E não só da cultura, mas de toda a nação. Lutou tanto que ficou com raiva. Típico de Lobato: diz que não crê no Brasil e na sua gente e que quer se manter distante. Mas não consegue se afastar e persiste na luta. Por falar sempre o que quis, acabou preso duas vezes. E levou na esportiva, pra fazer passar raiva quem lhe prendeu. Só não aguentou a mordaça da censura 
"Eu nasci para escrever o que penso; sou escritor, portanto. Mas estou impossibilitado de exercer essa função. Sinto em minha boca um grande batoque enfiado... Uma rolha... Sou um homem desempregado e sem função."
Quis trazer ferro e petróleo ao Brasil. Perseguiu o sonho de Mauá pelo progresso dessa grande nação, que viveu muitos séculos fazendo papel de pobre coitado na economia mundial. Queria ganhar dinheiro na indústria para ter os livros como recreação. Acabou ganhando dinheiro com os livros para perdê-lo na indústria.

Com as crianças, fez sucesso por onde passou. Recebia muitas cartas elogiando seus livros, pedindo conselhos, perguntando se poderiam tê-lo como patrono da biblioteca da escola, e, é claro, dando muitos conselhos. Crianças são atrevidas, e Lobato queria isso delas. Admirava o fato de as crianças exporem suas opiniões sem se importar se elas são mesmo importantes.

Já no fim da vida, sofreu um AVC que lhe deixou uma sequela rara e cruel - teve agrafia. Não perdeu nada de sua consciência ou de seus movimentos, mas não reconhecia o significado dos traços das letras, nem sabia mais como traçá-las. Conseguiu fazer rápidos progressos e reaprendeu a ler. Um novo espasmo o levou de madrugada em 4 de julho de 1948. Foi velado, onde mais?, na Biblioteca Municipal, aplaudido por uma multidão de brasileiros que sempre retribuíram com cartas, convites e aclamações o amor indisfarçável que teve pelo Brasil.