segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Seje...

Seje o assunto mais interessante, seje o local mais severo, seje a pessoa mais respeitável, nada consegue me prender o bastante para deixar de me arrepiar ao ouvir um erro grotesco como seje. E não me venha com uma tal de... como é mesmo? 'variação linguística', porque eu não estou falando de conversas no dia-a-dia. Estou falando de palestras, sermões, discursos, aulas... Aquelas 'falas' de autoridade, em que a pessoa precisa passar certa credibilidade, certo conhecimento. (Preste atenção nessa última frase. Elimine todas as situações que não se combinam com credibilidade e conhecimento - me refiro ao tal do conhecimento empírico, pra deixar as coisas mais claras). Falou seje, perdeu comigo.

É uma pessoa simples? Certo. Mas já aprendeu tanta coisa pra dar essa palestra, sermão, discurso, aula... porque não aprendeu a conjugar o verbo ser? Eu sei, é um verbo irregular, verbo irregulares são difíceis, mas eu duvido que ele fale 'fazi'. Se aprendeu a conjugar o verbo 'fazer', por que não o verbo 'ser'? Ser é muito mais importante do que fazer! Que adianta fazer e acontecer, se falta ser?

A pessoa que não sabe usar a língua portuguesa na oralidade passa diversas impressões, algumas podem até ser erradas, mas nenhuma é muito boa. A primeira coisa que eu penso é que essa pessoa não estudou. Coitado. Não teve oportunidade. Tudo bem, vamos ajudar a essa pessoa, ele não tem culpa de não saber. Ah, teve oportunidade? Faltou vontade? Ou fala errado por pura malandragem? Resolveu aprender a falar com os mano? Precisa de uma boa aula também. Módulo I - Vergonha na cara: não é tão amarga quanto Buscopan e você pode tomar sem contra-indicações. (Aceito sugestões para um nome mais curto, mas tão bom quanto. Ou melhor, é claro).

A segunda coisa que eu penso é que a pessoa não lê. Porque língua é prática. Ninguém aprende trocentas mil regras gramaticais, ortográficas e tudo mais e consegue aplicar isso no dia-a-dia sem dar um tilt cada vez que formular uma frase. Um dos grandes benefícios da leitura é o exercício do idioma. Eu tenho pena de quem não lê. Seja qual for o motivo porque a pessoa não lê, eu tenho pena de quem não pode ou não quer desfrutar de algo tão maravilhoso como o prazer de ler um bom livro.

Depois posso pensar que a pessoa tem preguiça, porque poderia muito bem saber conjugar o verbo 'ser'. Preguiça é mortal! Quer dizer, se você pode fazer melhor, porque se acomodar no mais ou menos? Não consigo gostar da mediocridade. Desculpem, não consigo mesmo. Ainda mais quando a tal mediocridade se relaciona ao instrumento de trabalho da pessoa. Quem trabalha com uma colheitadeira tem que saber usar. Quem trabalha com a língua não deve pensar diferente. 

Por último, vou pensar mal de quem colocou uma pessoa despreparada pra passar vergonha na frente de todo mundo. A pessoa pode não ter culpa de ser despreparada (se tem, Módulo I...), mas quem colocou essa pessoa na mira de todo mundo, ah... esse sim tem culpa! Sabia muito bem do que se tratava, ou pelo menos deveria saber. É no mínimo descuido, mas pode ser maldade também. Que feio, servidor... Você não pode fazer isso!

Isso tudo eu penso enquanto tenho um arrepio e sussurro 'seja!'. Não consigo, não consigo não corrigir. Chata, eu sei, mas eu tenho que corrigir, nem que seja só pra mim. Seje... Menas... Ponhar... Melhor parar pra não acabar passando mal aqui! Continuem vocês, se estiverem com bom condicionamento físico pra aguentar.

PS: Centésima postagem! :) (E em vez de fazer um post comemorando, eu dou uma de chata. É bem o que eu sou mesmo! hahaha)